quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

MINHA VEZ DE AMAR


Dentro de mim mora um medo
De me deixar seduzir.
Dentro de mim ‘inda é cedo
Quando o sol resolve partir.
Agora sem sua presença
Eu sou um ponto sem nó,
Desfaço a qualquer hora,
Me mato, me encho de dó.
Agora com sua licença
Eu vou querer respirar
Acho que toda má crença
Por si há de acabar.
Dentro de mim me conheço,
Só não me deixo entender.
Dentro de mim não tenho preço,
Mas não me queixo, não permito me vender .
Minha vez de amar vai chegar breve
Antes que a neve
Caia no Ceará.
Minha vez de amar será quando e sempre
Sem medo, sem preço
Com endereço pra eu a procurar.
Dentro de mim moro eu
Largada aos meus cuidados.
Fora de mim...um ateu.
Dentro...um pagador de pecados.
Minha vez de amar não será tardia
Virá antes do dia
Escurecer a manhã.
Quero você ao meu lado
Para ver que sei guerrear
E gritar melhor que o Talibã.
Dentro de mim um avesso,
Um bolo, um cheiro só seu.
Dentro de mim me mereço,
Um rolo, um jeito meu!


®leoniaoliveira

EU SOU DISTANTE

Eu sou distante
Eu sou distante
Eu sôo distante
Longe de mim
Por mais que eu reze
Eu não me entrego
Eu disco-entrega
E recuso o pedido
E eu espero alguém que possa chegar
De portas escancaradas
Eu dou risadas, acho mesmo que rio demais.
Eu nado de braçadas
Mas nada me interessa
Eu bem que procuro
Num quarto escuro encontrar um jardim

®leoniaoliveira

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

DECISÃO

Deixa eu voltar

Pra mim, Chegar, Olhar

Ir entrando

Com cuidado

E nem ascender a luz

Pra não quebrar o encanto.

Deixar os meus olhos

De um verde mais claro

E claro,

Sentir como as mãos

Estão tão limpas.

Deixa eu chegar

Em mim,

Devagar,

Me olhar

Respirar a áurea que me envolve.

Devolver meu corpo

Revestido de mim.

Sim, Descansar em mim.

Deixa eu me revestir de mim

E Ter um sorriso

No meio dos lábios.

®leoniaoliveira

 

CORRENTES


Depois que o sol desceu
Lá pras bandas dos dois
Velhos continentes,
Nós dois vestindo molambos de gente
Saímos a esmolar-nos tão carente
Que somos de nós.
Após o dia descambar
Deixando apenas no ar
Fumaça do que’ra luz
Nós, só nós, soubemos da cruz
Que temos de carregar:
Amar não é mais que viver,
Não é mais que lutar.
Amar é se conhecer
Conhecer é se entregar,
Entregando-se a vida ao amar.
Depois que o após das derrotas
Põe-se a murmurar
Nós dois, bem dois nós,
Ficamos a imaginar
A pura ficção do futuro
E a pura promessa de paz.
Tudo é um ponto escuro
Quando a claridade de cada um tanto faz.
Eu só quero é ser bem mais pura
Para ser tua cada vez mais!
®leoniaoliveira

FIM

É, Maria, o tempo

Correndo demais

É o tempo, rapaz.

Qual é o tempo que faz?

Quanto tempo faz.

Quem traz lembranças

Traz pedaços de paixões.

E embora haja esperanças

Talvez não haja ilusões.

Quanto tempo, Maria,

Quanto tempo passou.

E hoje, quem diria,

O amor se acabou.

“A noite está fria

E a luz apagou”

E se olha pra ele,

E se lembra bem dele

É só por educação.

E se acena pra ele

E se faz questão dele

É por compaixão.

Quem traz lembranças

Apagadas no coração,

Não tem o ardor das bonanças

Em plena estação.

E ainda há tempo, Maria,

Mas você já não o quer mais,

Pois ele, quem diria,

Sufocou sua paz.

Olha o tempo, Maria,

Olha o tempo, rapaz.

Olha a noite mais fria.

®leoniaoliveira

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

"OLHOS DE CÃO AZUL"

(inspirada na obra homônima de Gabriel Garcia Márquez)


Se ela acordar
Vai lembrar,
Eu não vou.
Se ela passar
Nem vou olhar,
Não estou.
Ela pode pixar,
Pode gritar,
Eu não sei.
Só sinto uma dor
De um vago amor
Que’u sonhei.
Ela lembra do espelho
Eu não lembro.
As colheres me fazem acordar.
O vestíbulo some,
O guardador,
A luz de uma mulher
Nua.
Não sei onde estive
E ela acorda a sonhar.

Sou o único homem
Que não se recorda dos sonhos

Sou o único homem
Que não se recorda dos sonhos

Ela passa por mim,
Ela chega ao final.
Ela grita, me acena,
Eu não reconheço o sinal.
À primeira vista
O amor não deixa pistas.
E eu queria encontrar
A senha, o segredo
Desta mulher.

®leoniaoliveira

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

METADES

Metade de mim me odeia,
Metade de mim me adora.
Metade de mim semeia
O que a outra metade devora.
Metade de mim, lua cheia,
Metade de mim, noite afora.
Metade de mim me rodeia,
Metade de mim me põe fora.
Metade de mim, general,
Metade de mim, um xadrez,
Metade de mim me faz o mal
Que a outra metade não fez.
E assim, brigando aos pedaços,
Cada metade por vez,
Rebenta a água o aço,
Sempre será o talvez.
Enquanto cerco metade
A outra metade ordena
Que’u morra de vontade
Desta metade obscena.
Monstro, anjo, crescente,
De volta reina num giro
Diz-se a metade descente
Com seu sussurrar de vampiro.
Metade de mim ganha o jogo,
Metade de mim me tapeia,
Metade de mim quer o novo
Que a outra metade receia.
Metade de mim tem saudades
Do que a outra metade esqueceu.
Metade de mim, pouca idade,
Metade de mim, já viveu.
Metade de mim, liberdade,
Metade de mim, escravidão.
Metade de mim é covarde,
Metade de mim, guardião.
E assim, brigando aos pedaços,
Cada metade por vez,
De cada uma é um braço,
De cada uma é um mês.
Enquanto lutam as metades,
Eu mesma não me oriento,
Às vezes parece que é tarde
E me arrebento por dentro.
Mas mesmo tão divergentes
Sofrem da mesma aflição,
De serem metade de gente,
Pois nunca se dão as mãos.
Metade de mim, contrabando,
Metade de mim, cardeal.
Metade de mim é um bando,
Metade de mim, informal.
Metade de mim, uma princesa,
Metade de mim, meretriz.
Metade de mim me quer presa
Ao que a outra metade não diz.
Sendo disputada no laço
Destas metades tiranas,
Não posso me dar o abraço
Sem que ocorra barganha.
Dado rolando, quando acordo
Penso, qual metade serei?
A metade com que concordo
E qual é esta metade eu não sei.



®leoniaoliveira